Imperatriz leva à Avenida o clamor que vem da floresta
No carnaval de 2017, a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense traz para a Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, o samba-enredo “Xingu: O clamor que vem da Floresta.”
Era pra ser um grande desfile de uma grande Escola de Samba, puxada por um belo samba-enredo com tema de raiz interiorana, ao gosto e tradição da Imperatriz Leopoldinense. Um desfile para encantar e, até, quem sabe, emplacar mais título do Carnaval, pela garra e qualidade da escola.
Era. O clima esquentou depois que várias entidades do agronegócio brasileiro resolveram atacar a escola por, segundo suas representações, “atacar o agronegócio”.
Ante o ataque, em dezembro de 2016, o presidente da Imperatriz, Luiz Pacheco Drummond, emitiu nota oficial explicando que com o enredo “Xingu — O clamor que vem da floresta”, de autoria do carnavalesco Cahê Rodrigues, a intenção foi somente retratar a beleza do Xingu, a cultura e a luta dos povos indígenas que nele vivem, “e não [fazer] uma agressão ao agronegócio e a seus trabalhadores”.
Nem precisava: a letra do samba dos compositores Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna fala por si:
Brilhou… a coroa na luz do luar!
Nos troncos a eternidade… a reza e a magia do pajé!
Na aldeia com flautas e maracás
Kuarup é festa, louvor em rituais
Na floresta… harmonia, a vida a brotar
Sinfonia de cores e cantos no ar
O Paraíso fez aqui o seu lugar
Jardim sagrado, o caraíba descobriu
Sangra o coração do meu Brasil
O belo monstro rouba as terras dos seus filhos
Devora as matas e seca os rios
Tanta riqueza que a cobiça destruiu!
Sou o filho esquecido do mundo
Minha cor é vermelha de dor
O meu canto é bravo e forte
Mas é hino de paz e amor!
Sou guerreiro imortal derradeiro
Deste chão o senhor verdadeiro
Semente eu sou a primeira
Da pura alma brasileira!
Jamais se curvar, lutar e aprender
Escuta menino, Raoni ensinou
Liberdade é o nosso destino
Memória sagrada, razão de viver
Andar onde ninguém andou
Chegar aonde ninguém chegou
Lembrar a coragem e o amor dos irmãos
E outros heróis guardiões
Aventuras de fé e paixão
O sonho de integrar uma nação
Kararaô… Kararaô… o índio luta por sua terra
Da Imperatriz vem o seu grito de guerra!
Salve o verde do Xingu… a esperança
A semente do amanhã… herança
O clamor da natureza
A nossa voz vai ecoar… Preservar!
Segundo a Escola, os versos “Sangra o coração do meu Brasil/O belo monstro rouba as terras dos seus filhos/Devora as matas e seca os rios/ Tanta riqueza que a cobiça destruiu!” trata da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, inaugurara em 2016 na bacia do Rio Xingu, no Pará, e não do agronegócio, cujo tema sequer foi tratado no samba-enredo.
Há, porém, uma ala da escola, a Ala 15, que trata dos “Fazendeiros e seus agrotóxicos”. Segundo o carnavalesco Cahê Rodrigues, a intenção da escola é, com essa ala, fazer um alerta sobre o que a agride a vida do índio xinguano e, por extensão, a vida de cada qual de nós.
A disputa, que saiu, há muito, da esfera do palco da Marquês da Sapucaí, une hoje pessoas e entidades socioambientalistas, de defesa direitos humanos e dos povos indígenas em torno do mesmo mantra: #SomosTodosImperatriz, pelo Xingu e pelos povos da Floresta. Salve o verde do Xingu!
Salve! Pra você que chegou até aqui, nossa gratidão! Agradecemos especialmente porque sua parceria fortalece este nosso veículo de comunicação independente, dedicado a garantir um espaço de Resistência pra quem não tem vez nem voz neste nosso injusto mundo de diferenças e desigualdades. Você pode apoiar nosso trabalho comprando um produto na nossa Loja Xapuri ou fazendo uma doação de qualquer valor pelo PIX: contato@revistaxapuri.info. Contamos com você! P.S. Segue nosso WhatsApp: 61 9 99611193, caso você queira falar conosco a qualquer hora, a qualquer dia. GRATIDÃO!