São Paulo: Avanços sustentáveis na maior cidade brasileira –
Completados 462 anos, São Paulo vive uma resistência típica daqueles que a edificaram, os nordestinos. A metrópole poderia ter surgido por entre as paisagens secas do sertão, tamanha sua capacidade de reinvenção e resiliência.
No passado conhecida por “Terra da Garoa” (dado os outonos, especialmente, em que ficava encoberta por um chuvisco fino e persistente), foi sendo concretada: chão, paredes e tetos, e o “mar” foi virando “sertão”. Em menos de cinco décadas a cidade se viu confinada a si mesma.
A “lógica” da mercantilização, aliada à falta de planejamento, o avanço da especulação imobiliária, a priorização pelo transporte individual e o que dele advém (viadutos, pontes, rodoanéis e uma deprimente desconstrução humanística, urbanística e paisagística) fizeram de São Paulo o túmulo da sustentabilidade.
Nos últimos anos, importantes medidas vêm sendo tomadas para resgatar o bem-viver, e já podem ser sentidas em vários aspectos transformados na megalópole que exala amor, humanidade, solidariedade, políticas públicas humanizadas para o transporte, arte, lazer, alimentação sem veneno, direitos e deveres e, dentre eles, o maior: o direito à vida.
Em boa parte, essas transformações resultam de inúmeros encontros, reivindicações, diálogos, debates promovidos pelo movimento social e sindical, por cidadãs e cidadãos engajados, bem como por outros, que mesmo não engajados contribuem com seu trabalho para uma cidade mais sustentável.
Pequenas iniciativas se somam às grandes quando a população cobra, e a gestão responde à altura das exigências. Há ainda um “susto”, uma desconfiança e até uma incompreensão porque, de fato, é pouco tempo para tamanho avanço.
Quando um plano diretor impõe limites à ganância aliada ao mau gosto e determina que os prédios em determinadas regiões tenham limites de andares e quando se estabelece que se tenha apenas uma vaga de carro por apartamento, a cidade se enxerga e respira.
Quando se priorizam os corredores de ônibus em detrimento ao transporte individual, quando se iluminam as ruas dos bairros que estão nas franjas da cidade, a população, em especial as mulheres, sentem-se mais seguras, e isso também é sustentabilidade.
Quando a merenda escolar passa a ter a condicionante de no mínimo 30% da compra para a agricultura familiar via compras sustentáveis, produtos da economia solidária, e são pensadas feiras, sacolões, canais diretos de diálogo entre a gestão e a produção agroecológica e orgânica, a cidade se movimenta, se oxigena e se torna mais fraterna e generosa, mais sustentável.
Quando se estabelecem políticas de fomento, arranjos produtivos locais e investimentos públicos, que atraem também os privados, as áreas rurais e as aldeias indígenas, a exemplo de Parelheiros e Jaraguá, passam a estar mais integradas à metrópole.
Quando movimentos de permacultura se multiplicam, e se incentivam lavagens ecológicas, bioconstrução e integração com a natureza e a riqueza de seus elementos, semeia-se a paz, um pouco mais de paz.
Quando as ciclovias tornam a cidade mais frequentável e dão acesso e direito de ir e vir a quem mais necessita, as ruas deixam cada dia mais de ser dos carros e voltam a ser do povo.
Quando a população cobra, e a gestão pública executa, a política pública acontece e todos nos tornamos parte dela. A redução da velocidade dos carros humaniza, não pelo amor, e sim pela dor no bolso, mas saber quantas vidas são salvas compensa e nos faz sorrir, pois somos também parte deste salvamento.
Disso conclui-se que além de existir, sim, muito amor, já existem também avanços rumo a vida mais sustentável na maior cidade brasileira.
Vânia Viana
Ambientalista