Querida moça de Formosa
Por Marcos Jorge Dias
Na manhã ensolarada deste 9 de abril, em que os bem-te-vis saltitam nas palhas dos coqueiros que o vento balança, as borboletas amarelas, exaltadas na poesia de Cora que você ainda ontem me enviou, namoram as flores do pé de maracujá enramado na cerca e o gato pachorrento se espreguiça ao sol no caramanchão do Bougainville, recebo a notícia do seu encantamento.
O primeiro sentimento que me veio foi de raiva. Sim, uma raiva egoísta.
Não ouvir sua risada sonora ecoando nas terras do bem-querer; não ver seu olhar brilhante, reflexo dos cristais do chapadão do Goiás e sua voz de cotovia a contar causos e histórias que nos assombravam ou faziam rir, me doeu no peito. Moça formosa de Formosa, não devias ter partido assim, nos deixando essas ausências.
Chorei. Mesmo sendo o poeta acreano de sua preferência, como você costumava me dizer, não sou homem de me dar ao choro em abundância, mas dessa vez eu chorei. Os açoites da vida me curtiram o couro das costas e tudo que posso dizer nesse momento, passada a raiva egoísta, é que entendo sua coragem.
Seu período de prisão no casulo do corpo acabou. Agora você é borboleta cósmica, pó de estrelas, anjo no céu dos poetas. Então… o que dizer? Até breve! No momento certo nos encontraremos, nas rodas de poetas, nas areias à beira-mar, nas manhãs ensolaradas de poesias, em um abril de qualquer tempo.