“O céu fica na cabeça de um sapo grande”
Por Tarinu Yudjá
Eu pensava: por que a chuva tem água?
Perguntei ao meu pai, ele me falou
que a água é quem faz a chuva,
que a chuva tem gelo.
Ficava pensando:
o que tem na chuva que faz barulho?
Será que é o pai da chuva?
Eu pensava: o que segura o céu?
Meu pai me disse: o céu fica na cabeça de um sapo grande,
Eu pensava: quem fez a água?
Essa água é trabalho do nosso pai.
Essa água fica no seco igual garrafa.
Daí eles bateram na garrafa, ela quebrou e virou água.
Para celebrar o Abril Indígena, compartilhamos este lindo texto de Tarinu Yudjá, publicado em “Geografia Indígena” – MEC/SEF-ISA, Brasília, 1988.
SOBRE OS YUDJÁ: Canoeiros, os Yudjá são antigos habitantes das ilhas e penínsulas do baixo e médio Xingu, um dos rios mais importantes da Amazônia meridional, atualmente ameaçado por projetos de implantação de complexos hidrelétricos. Há cerca de cem anos, este povo acha-se separado em dois grupos por uma enorme distância. Uma parte vive na região de ocupação muito antiga, o médio Xingu, na tão diminuta Terra Indígena Paquiçamba e adjacências não contempladas pelo reconhecimento oficial, bem como em Altamira (Pará). A outra parte vive no alto curso do mesmo rio, na área do Parque Indígena do Xingu (PIX) criado em 1961, no estado do Mato Grosso.
Fonte: Instituto Socioambiental Foto interna: Marcelo Soubhia-ISA