Há mulheres que falam silêncio
Por Lília Tavares
Enchem a vida como um batel de sonhos. Se lhes perguntam se querem falar do que arrastam, respondem que é das gaivotas que preferem falar.
Trocam a terra firme pelo baloiçar das águas. Não têm âncoras nos barcos, pois é com as mãos e a alma que querem agarrar as amarras do cais.
Largam abrigos sem consultar as bússolas e os astrolábios dos navegadores.
Não mareiam, deslizam.
Não cismam no que não têm, antes observam as mãos abertas e encontram-nas vestidas de sonhos.
Aconselham-se com as marés e escutam os peixes que vêm à tona.
Vestem-se para uma festa todas as noites, mesmo que as noites não se abram no vento.
Adormecem em almofadas de penas.
Os seus corações não precisam de leme.