O Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) passou um sufoco em sua 17ª edição, na Cidade de Goiás, a começar pelo seu adiamento, que chegou a parecer um prenúncio de cancelamento. Criado como parte da Semana do Meio Ambiente, em junho, neste ano foi realizado na segunda semana de agosto, com orçamento reduzido. Mas, com vigor renovado, com jeito de que tomou tenência e de que volta ao seu formato original, que o fez um evento cultural respeitado mundo afora.
Há, é bem verdade, um bom caminho até que isso se efetive, mas o importante é que o formato adotado este ano agradou os realizadores e a comunidade local, que sempre foi a força mais ativa no festival. Afinal, nos últimos anos o Fica vinha se transformando em pura quermesse, valorizando shows musicais, em detrimento do cinema e do debate cultural, que eram suas marcas.
A Cidade de Goiás, também conhecida por Goiás Velho, é a antiga Vila Boa, que foi capital do estado até a década de 1930, quando foi construída Goiânia. Foi fundada pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, em 1726, quando teve início a ocupação dos territórios do Brasil Central.
Rodrigo Santana, nativo da terra vila-boense e coordenador operacional do evento desde seus primórdios, afirma que neste ano voltou a sentir o público integrado com a natureza do festival, apesar dos pesares. É quase dramático o relato que ele nos fez dos preparativos do encontro, fora de sua época, com prazo reduzido, infraestrutura precária, dinheiro curto e um certo descrédito de todos os setores envolvidos. Mas, no fim, todos deram a volta por cima.
Há que se levar em conta, também, que existe uma equipe de produção azeitada, que em pouco tempo coloca o evento nos trinques, em seus mínimos detalhes. Neste ano, 162 pessoas trabalharam na parte operacional, que envolve o receptivo, credenciamento, transporte, e também projeção de filmes, palcos de shows, solenidades, atendimento ao visitante, tudo, enfim. Com destaque ao grupo “Fica Limpo”, que coleta lixo o tempo todo.
Lisandro Nogueira, consultor de cinema na coordenação, diz que a parte artística do evento não sofreu embaraços. “Conseguimos fazer a seleção prévia com o tempo necessário e assim asseguramos a qualidade dos filmes colocados sob julgamento”, disse ele.
O cineteatro da cidade, que sempre foi o palco principal do Fica, entrou em reforma, pois já passava da hora de evitar acidentes em suas instalações desgastadas. Assim, as sessões de cinema foram realizadas em sala improvisada em um ginásio de esportes de uma escola da localidade. E o “cinemão”, um largo auditório utilizado em anos passados para grandes plateias, foi tirado de cena.
Entretanto, os debates, as oficinas e os cursos foram realizados a contento em auditórios e outros espaços cedidos por escolas, igrejas, empresas e entidades diversas. A base local da produção do festival funcionou, como já é tradicional, nas instalações do Exército. A rede hoteleira e os restaurantes locais foram credenciados ao atendimento aos convidados, como de costume, também.
É fato que o edital do Fica 2015, publicado no início do ano, manteve sua validade, o que inclui prazo de inscrição e regulamento. Assim, foram inscritos 327 filmes de todos os continentes, dos quais foram escolhidos 21 finalistas, por uma comissão de pré-seleção formada pela coordenação-geral do evento.
Os realizadores das obras selecionadas são convidados e por isso têm passagem, hospedagem e alimentação bancadas pela organização, o que é norma do festival desde sua primeira edição, em 1999. O júri de premiação, que neste ano teve cinco membros, todos brasileiros, também entra na categoria de convidado, bem como palestrantes, consultores e participantes especiais.
Há, de igual modo, eventos paralelos, como a mostra competitiva da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), que também distribui prêmios a realizadores participantes. Neste ano houve também sessões de filmes de animação, voltadas ao público infanto-juvenil e 28 apresentações de músicos goianos, divididas nos cinco dias em três palcos assentados em diferentes pontos da cidade.
A afluência de público foi bastante satisfatória, segundo os organizadores, e isto se fez sentir nas sessões de filmes, quase todas lotadas, e nos debates e oficinas, também bastante concorridos. Vale lembrar que, em anos passados, a realização de grandes shows musicais, especialmente dos gêneros sertanejo e rock, levavam mais gente à Cidade de Goiás, mas eram comuns sessões de cinema e debates culturais ocorrerem com meia dúzia de gatos pingados.
A secretária de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, Raquel Teixeira, hoje responsável pela organização do Fica, justificou o atraso na sua realização com a necessidade de ajuste de caixa do governo estadual. Reconheceu, contudo, que a mudança de data foi prejudicial em todos os aspectos e disse que já foi determinada a volta ao mês de junho na edição de 2016.
O governador Marconi Perillo não compareceu às solenidades de abertura, na terça-feira, 11, e de encerramento, no domingo, 16, mas esteve na cidade e acompanhou parte da programação do último dia. Também ele declarou diversas vezes que o formato mais focado no cinema e no debate cultural significa “preservar as características que o fazem um evento conhecido e respeitado”.
OS PREMIADOS
Segundo os membros do júri oficial do Fica, o elevado padrão de qualidade dos 21 filmes selecionados dificultou bastante a premiação, entre longas, médias e curtas-metragens. Pelas normas, também são premiadas duas obras goianas, que podem eventualmente estar entre os premiados na grade geral. Também são concedidos os prêmios do “júri popular”, que é a votação do público, e o “Troféu Imprensa”, concedido pelos jornalistas encarregados da cobertura do evento.
Categoria | Obra | Prêmil R$ |
Troféu Cora Coralina (melhor obra) | Transgenic Wars – Média – França Diretor: Paul Moreira | 50 mil |
Troféu Carmo Bernardes (melhor longa) | O Veneno está na Mesa 2 – Brasil Diretor: Sílvio Tendler | 35 mil |
Troféu Jesco Von Puttkamer (melhor média) | Índio Cidadão – Brasil Diretor: Rodrigo Siqueira | 25 mil |
Troféu Acary Passos (melhor curta) | Galus Galus – Animação – Venezuela Diretora: Clarisse Duque | 25 mil |
Troféu João Bennio (melhor filme goiano) | Lobo Solitário – Curta Diretor: Ranulfo Borges | 40 mil |
Troféu Bernardo Elis (segundo melhor filme goiano) | Maria Macaca – Curta Diretor: Lázaro Ribeiro | 30 mil |
Menção Honrosa 1 | My Nam is Salt – Longa – Suíça Diretora: Farida Pacha | _ |
Menção Honrosa 2 | El Rio que Nos Atraviesa – Longa – Venezuela Diretora: Manuela Blanco | _ |
Troféu Luiz Gonzaga Soares (júri popular) | Maria Macaca – Curta Diretor: Lázaro Ribeiro | 10 mil |
Troféu Imprensa | Guinée, le Territoire de Oublie – Média – França Diretor: Filippe Lafaix | 10 mil |
Fotos: Facebook FICA