Neste domingo, 8 de janeiro, quem partiu desse mundo foi o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017). Depois de passar pela guerra, pela perseguição, pelo exílio e sobreviver para se tornar um dos mais grandes pensadores do mundo, Bauman, aos 92, partiu de mansinho, desde sua casa em Leeds, na Inglaterra, onde morou por várias décadas.
Bauman tinha apenas 13 anos quando sua família judia escapou da invasão nazista na Polônia se refugiou na União Soviética, no ano de 1939. Jovem, ainda na Rússia, alistou-se na divisão polonesa do Exército vermelho, onde foi condecorado em 1945. Depois da guerra, voltou ao seu país. Em Varsóvia, casou-se com Janina Lewinson, sobrevivente do Gueto de Varsóvia, escritora, falecida em 2009.
Com sua morte, vai-se o criador do conceito de “Modernidade Líquida”, que ele definiu como uma sociedade contemporânea individualista, injusta e desumana, onde nada mais é sólido, onde tudo é volátil – o Estado, a Nação, a família, o compromisso com a qualidade da vida em comunidade. Ou seja, onde “nossos acordos são temporários, passageiros, válidos apenas até novo aviso”. Combateu, em seus mais de 50 anos de militância pela escrita, a superficialidade do mundo moderno.
Ultimamente, andava implicando o que chamava de “ativismo de sofá”, centrado nas redes sociais, que considerava uma armadilha contra a militância. Também lhe incomodava o conceito de “pós-modernidade” porque, segundo ele, falta perspectiva histórica para considerar a modernidade como findada. “O que temos é uma versão privatizada da modernidade, mas segue sendo um tipo de modernidade”, dizia Bauman.
Sobre o Brasil, ficou registrada uma entrevista antológica, concedida ao jornalista Alberto Dines em 2015 para o programa 2015 para o programa Observatório da Imprensa, da antiga TV Brasil. Admirador dos avanços dos governos Lula e Dilma, costumava dizer: “Vocês estão no caminho certo e eu espero de todo o meu coração que vocês cheguem lá”.
Dentre seus mais de 50 livros, encontra-se “Modernidade Líquida”, publicado no ano 2000.
ANOTE AÍ:
ENTREVISTA DE BAUMAN A ALBERTO DINES
FRASES DE BAUMAN, O GRANDE PENSADOR, compiladas por “El País”.
1. “As redes sociais são uma armadilha”.
2. “O velho limite sagrado entre o horário de trabalho e o tempo pessoal desapareceu. Estamos permanentemente disponíveis, sempre no posto de trabalho”.
3. “Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”.
4. “Esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem feito. O que se consome, o que se compra, são apenas sedativos morais que tranquilizam seus escrúpulos éticos”.
5. “O movimento [espanhol] de 15 de março é emocional, carece de pensamento”.
6. “Os grupos de amigos ou as comunidades de bairro não te aceitam sem dar razão, mas ser membro de um grupo no Facebook é facílimo. Você pode ter mais de 500 contatos sem sair de casa, você aperta um botão e pronto”.
7. “Foi uma catástrofe arrastar a classe média à precariedade. O conflito não é mais entre classes, é de cada um com a sociedade”.
8. “As desigualdades sempre existiram, mas de vários séculos para cá se acreditou que a educação podia restabelecer a igualdade de oportunidades. Agora, 51% dos jovens diplomados estão desempregados e aqueles que têm trabalho têm empregos muito abaixo das suas qualificações. As grandes mudanças na história nunca vieram dos pobres, mas da frustração das pessoas com grandes expectativas que nunca se cumpriram”.