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Dona Romana: a vidente de Natividade revistaxapuri.info

Dona Romana: a vidente de Natividade

Dona Romana: a vidente de Natividade

No Tocantins, na cidade de Natividade, chama a atenção um quintal pequeno, porém recheado de enormes esculturas de pedra. Ele abriga em seu interior uma imensa cidade de signos místicos e religiosos, seres de outros mundos, escritos talhados em uma linguagem críptica e desconhecida.

Por Ruan Chaves 

Ali por perto, na casa a frente, uma senhora que domina todos esses mistérios: Dona Romana. Fui até lá acompanhado por um casal de amigos, que logo se puseram a conversar com ela. Em sua explicação, que é repetida a todos que visitam o local, diz que ergueu aquelas estátuas quando era mais nova, por ordem de seus mentores espirituais.

A vidente diz que, em suas visões, eles a informaram de que se aproxima um momento cataclísmico para o planeta, em que seu eixo irá girar e ele passará por “uma grande lavagem”. As estátuas que ergueu, então, tomarão vida, e irão cada uma para o seu devido lugar no planeta, para dar-lhe a adequada sustentação quando chegarem os momentos críticos.

Talvez por isso as estátuas, em sua maioria, não pareçam inertes: quase todas são dotadas da capacidade de movimento, a notar pelas pombas que decoram as várias partes do quintal. É esperado que, na hora da “grande lavagem”, todas elas comecem a voar para os lugares onde forem mais necessárias.

Essas estátuas, ela me disse, eram uma encomenda já muito antiga, mas como o brasileiro sempre foi muito preguiçoso, passaram quinhentos anos até que alguém as erguesse.

A maior atração do local, entretanto, não são tais estátuas, que as vezes chegam a vários metros de altura, mas a própria escultora, que as ergueu com grande esforço em pedra, vidro e cimento. Em sua casa, na frente do quintal, Dona Romana nos mostrou uma biblioteca de cartolinas, que ela e seus seguidores desenharam.

Elas contêm as várias visões que se repetem nas estátuas logo ali fora, como também mapas e cenários de outros mundos, contendo legendas com o nome de cada localidade nestas dimensões paralelas.

Tanta complexidade tornou Dona Romana alvo de pesquisas acadêmicas: certo dia, foi-me mostrado um livro de alguns dedos de espessura escrito sobre a sua pessoa. Sentados à sua casa, meu amigo indagava sobre a sua ancestralidade, e dissertava sobre sua relação com uma antiga princesa africana. Ele perguntava muito.  Ela limitou-se a dizer: “Olha, enquanto você fala dela, ela está bem ali no quarto, te chamando.”

Entrando no quarto ao lado, ficamos surpresos em notar que aquela pessoa de quem ele tanto falava estava ali, desenhada bem grande na parede, ao lado de tantos outros desenhos que preenchiam sua casa. Naquele instante, eu pude perceber que o rigor racional era incapaz de conter em si toda a mística daquele ambiente.

Eu, por minha vez, me limitei a lhe dar de presente algumas fotos e papéis de uma comunidade esotérica muito famosa em Minas Gerais, que também gostava de falar de discos voadores, extraterrestres, e de um recomeço do mundo, que se aproxima. E ela respondeu, com simplicidade:

– É, isso daqui eu tenho que sentar, ler, estudar… Eles falaram para mim que aqui ia chegar pedaços dos quatro cantos do mundo, que tudo iria se reunir aqui. E as vezes o que vem é isso, né? Uma coisinha pequena que nem essa, um pedaço de papel.

O resto da tarde, Dona Romana então nos contou as mais variadas histórias. Nos falou de quando desceu um rio de barco, e se abriu um portal, que do outro lado ela conseguia ver a Atlântida. Também nos mostrou um enorme galpão onde guarda água e suprimentos que ajudarão as pessoas da região após o grande cataclisma, como também conchas incrustradas de pedras brilhantes, que hoje utiliza para fazer cirurgias espirituais.

Uma por uma, ela sabia contar o nome, história e função, e o motivo pelo qual cada concha foi encomendada pelos seus mentores. No futuro, ela dizia, estes serão os instrumentos de uma nova medicina. Tudo ali é assim – uma semente prestes a tomar vida e revelar sua verdadeira forma em um futuro próximo, não tão distante do agora.

De noite, tivemos a oportunidade de participar de uma reunião onde estavam presentes Dona Romana, seus seguidores e várias crianças. Ali, na frente de um altar com várias imagens católicas, ela cantava um bendito muito bonito que tinha aprendido de família, que falava da Paixão de Cristo, e que era acompanhado por todos.

Depois, formou-se uma roda de umbanda, onde seus seguidores foram apossados, cada um por um espírito diferente. Em um deles baixou um leão, o qual logo Dona Romana se encarregou de domar. Em outro, baixou um preto velho, que teve o azar de ser importunado por uma moça que chegou logo na hora da gira, e estava ali para pedir vantagens pro marido.

– Dá um emprego pra ele! Eu tô esperando. Ao que ele respondeu: “Tudo bem minha filha, eu vou olhar.”

No final de tudo, Dona Romana se encarregou de despedir os espíritos, e todos retornaram à normalidade, a discutir os assuntos do dia-a-dia antes de partir para casa. “Mulher dos outros é homem, rapaz!”, escutei alguém dizer.

Dormi ali por perto, e também parti para casa no dia seguinte. Tinha passado o dia anterior tirando muitas fotografias daquele mar de estátuas, capelas, crucifixos, pássaros e antenas, mas as esculturas eram tantas e tão variadas que não consegui capturar a todas.

Todas as estátuas estão voltadas para a mesma direção. O sol nasce atrás das esculturas, e elas veem o sol se pôr à sua frente. Mais tarde, fui acusado de ser um péssimo fotógrafo; entretanto, cursos de fotografia não seriam suficientes para que eu pudesse capturar a beleza daquele lugar, que só pode ser conhecido em pessoa.

 Capa: Trema . Matéria publicada originalmente em 05/06/2021. 


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapui.info. Gratidão!

 

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