E aí, vamos de rodízio? Sucessivas abordagens editoriais e indicadores obtidos por importantes pesquisas confirmam o processo da “são-paulização” das cidades médias brasileiras, como Goiânia, Campinas, Campo Grande, Palmas, Brasília…
Não obstante os avanços urbanísticos verificados na última gestão de São Paulo, essas cidades caminham para o primeiro estágio do caos urbano: o irreversível congestionamento viário.
Decorrência dessa anomalia está o recrudescimento da violência, afinal, em números absolutos, o Brasil é o quarto país do mundo entre os campeões de mortes no trânsito, próximo de 45 mil mortes/ano, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria.
A velocidade média dos veículos no “rush” dessas cidades, em determinados trechos, se aproxima de Bangcoc/Tailândia (3,4 km/h), enquanto a marcha normal do pedestre continua a 5,5 km/h.
Sabemos não haver mágica para o problema da fluidez de veículos. Construir viadutos, abrir praças e alargar ruas apenas camufla o drama, além de deteriorar seus poucos espaços de convivência. Administrar fluidez é como enxugar gelo, não tem fim, mas ao fazê-lo a gestão precisa agregar instrumentos de qualificação já disponíveis para amenizar tanto desconforto.
E mesmo assim a questão culminará nos clássicos dilemas que deverão balizar as decisões de governo: priorizar o transporte individual ou o coletivo? O automóvel ou o pedestre? A minoria ou a maioria? – Eis a questão de fundo!
Agrava o quadro a política de uso e ocupação do solo. Nessas cidades médias em expansão desordenada o que ainda se observa é a resistência das gestões a tendências sustentáveis. A influência do poder econômico se sobrepõe ao critério técnico na liberação da construção de polos geradores de viagens.
Só para ilustrar, vejamos o que ocorre nessas cidades com os processos de rápida verticalização e expansão de seus perímetros em que as aéreas rurais e os espaços verdes são suprimidos agressivamente em favor dos interesses imobiliários.
Muito empreendimento, muita especulação, pouco planejamento! Para justificar a sandice, alegam os empreendedores e governos que havendo estacionamento disponível resolve-se a demanda, esquecendo-se de que para acessá-lo é preciso ocupar os espaços viários. Sandice que resultará em mais retenção, acidentes, lesões, mortes e deterioração ambiental. Logo, menos qualidade de vida.
Do ponto de vista de logística de fluidez no trânsito, São Paulo é boa para nós, mas como laboratório para que aprendamos sobre como e o que não fazer ou imitar.
Em tudo ela é dez vezes mais que a média dessas cidades, como Goiânia, com sua população, frota, vias, acidentes, mortes etc. Logo, onde essa proporção 10/1 se verifica temos dez vezes mais chances de evitarmos os erros cometidos lá, a cidade dos “minhocões”.
Não há que submeter as populações das cidades médias brasileiras ao mesmo martírio paulistano, se invertermos a visão equivocada que alimenta políticas de incentivo ao uso do automóvel.
Primeiro, porque a própria cidade de São Paulo na sua atual gestão (2013-2016) avançou neste quesito ao revisar recentemente seu Plano Diretor; e segundo porque teve coragem de recuperar espaços para o transporte coletivo e o transporte ativo (bicicletas) na sua malha viária coalhada de carros e motocicletas, antes a prioridade.
Por isso, que tal, neste momento pós-eleitoral, anunciarmos a inadiável ampliação dos corredores de ônibus; a instituição das zonas de restrição de tráfego; o sistema de estacionamentos automatizados (parquímetros) e pedágios urbanos como equipamentos de financiamento das políticas de mobilidade humana; a humanização das calçadas; a racionalização da expansão urbana, enfim?
Do contrário, continuaremos a “são-paulizar” nossas cidades médias (e logo mais as pequenas), percorrendo o caminho inverso, logo mais restando como solução para o deslocamento humano um bom sistema de som, geladeira, ar condicionado e penico como acessórios veiculares para enfrentar o que já se anuncia.
Ou, quem sabe em breve, mas muito em breve mesmo, vamos de rodízio, esse paliativo que inventaram para esconder o verdadeiro problema do colapso das cidades. Só para começar!