Felipe Damásio mora em Santo André, no estado de São Paulo. Carlos Lins é de Maceió, Alagoas. Bruno Ribeiro vive em Palma, em Minas Gerais. Juntos, além de serem amigos, formam o grupo musical de pop/hip-hop chamado Phill, que em outubro completou seis anos de existência. Detalhe: Felipe, Carlos e Bruno só se viram uma vez na vida.
Trata-se de um exemplo de um modo de trabalho em expansão: a co-criação virtual. Com o papel dominante que desempenham as redes sociais em nossas vidas, não há mais a necessidade da proximidade física para estabelecer uma troca de afinidades, uma amizade, ou mesmo para montar um projeto, realizar um trabalho ou criar um produto.
Foi assim que surgiu o Phill. Os três jovens se conheceram pela internet em um grupo de discussão, em uma das badaladas “Comunidades” do Orkut, hoje extintas. Entre uma prosa e outra, veio a ideia de fazer algo diferente.
Foi daí que os amigos deram um salto da prática costumeira – que era postar um anúncio no quadro de avisos de um estúdio musical ou de algum espaço público e aguardar os resultados que eram, claro, duvidosos e demorados – e partiram para a formação da banda virtual.
Hoje, uma banda pode criar um álbum inteiro sem que seus integrantes compartilhem o mesmo espaço físico. Cada instrumento é gravado individualmente em um arquivo pelos integrantes de um grupo. Depois, as gravações individuais são compiladas e aperfeiçoadas em um arquivo final.
Foi assim que o Phill produziu seu último single “Hey Y’all” (uma tradução de uma frase coloquial norte-americana equivalente a “e aí vocês”), com participação do cantor britânico Francis Edem. “Hey Y’all” acaba de ser lançado pelo grupo nas plataformas de música online Spotify e YouTube.
“Desde 2009 fazemos co-criação online. Começamos sem saber no que ia dar, mas acabou funcionando. Eu produzo a parte instrumental aqui em Maceió, Bruno escreve a música em Palma e depois repassa pro Felipe, em Santo André, pra ele gravar a voz em cima e finalizar a faixa”, diz Carlos.
Na co-criação virtual, o papel de cada participante é especialmente valorizado. “A contribuição de cada um é fundamental para que o projeto final fique como o trio planejou”. A co-criação em rede funciona? “Com certeza”, agrega Carlos. “Em 2009, só tínhamos sonhos. Hoje temos um projeto contínuo que produz muito e está ficando popular”.
Carlos não exagera. O Phill já produziu 17 faixas originais, mais de 30 músicas remixadas, e tem 38 vídeos disponibilizados no YouTube. Em cinco anos, os vídeos do grupo no YouTube já somam mais de 370 mil visualizações, sendo que um remix produzido pelo grupo conquistou, sozinho, 140 mil visualizações.
Das mídias sociais, surgem outros bons negócios para o grupo. Um dos seus EPs (Extended Plays) foi utilizado por uma empresa de publicidade inglesa para divulgar capas de celulares no site da Amazon UK. E, recentemente, Felipe participou de um programa de TV em uma emissora de São Paulo para divulgar o trabalho do grupo.
Os meninos do Phill continuam sonhando. “Queremos atingir mais pessoas com o que gostamos de fazer. De forma geral, é difícil divulgar nosso estilo de trabalho no Brasil. Muitas vezes nem acreditam que somos brasileiros, mas nós seguimos em frente. Ah, e queremos muito, muito, muito, conhecer a Beyoncé”, diz Carlos. Estamos na torcida, Phill.