Entre os dias 23 e 28 de junho, a Cidade de Goiás sediará mais uma edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) que, desde 1999, fomenta e fortalece a cultura na antiga capital goiana. Além da mostra competitiva – que oferece R$ 240 mil reais em prêmios para as melhores produções –, o Festival disponibilizará à comunidade e aos turistas um repertório variado de atividades que tem como foco o meio ambiente, tema orientador de todo FICA.
Idealizado para projetar nacionalmente o município, o evento acabou tomando proporções muito maiores do que o previsto, fazendo de Goiás Velho um polo de atração fortíssimo para filmes ambientais do mundo inteiro. A cada FICA, a cidade é tomada por uma multidão apaixonada pelas apresentações musicais, exposições, oficinas, mesas redondas, palestras e debates do Festival.
Em 2014, cerca de 130 mil pessoas passaram por Goiás nos seis dias do evento e cerca de 2 milhões interagiram com as postagens realizadas em mídias digitais. A expectativa, portanto, é enorme, segundo dados da organização do encontro.
Para Emiliano Godoi, consultor de Meio Ambiente do Festival, o objetivo é sensibilizar as pessoas para que promovam melhorias significativas na qualidade de vida da população e do planeta. Daí a importância de realizar ações que extrapolem o âmbito cinematográfico, envolvendo também a música, a dança, o teatro e a literatura.
O projeto FICA na Comunidade, uma das novidades da última edição, desenvolve atividades de turismo sustentável importantíssimas nas escolas locais. “O empoderamento comunitário é essencial quando se trata de ações ligadas ao meio ambiente: é do povo que vem a força da mudança”, diz Emiliano.
Como lugar de memória, a antiga Vila Boa é um sítio privilegiado de reflexões sobre o futuro da humanidade e de suas relações com a natureza. Em assim sendo, o fato de abrigar um evento internacional, aberto a mentes criadoras de todas as nações, é fundamental para fortalecer a consciência socioambiental, independente das fronteiras que nos cercam.
Embora o FICA tenha um caráter cinéfilo, o que é mostrado nas telas configura apenas um dos aspectos desse belo encontro anual. Os filmes propulsionam os gestos, o que é visto estimula atitudes. Sua localização em uma cidade considerada Patrimônio Histórico e Cultural Mundial endossa este intento.
A Cidade de Goiás exala história. Passear por suas ruas e becos é revisitar um pouco do passado colonial de nosso país. É repensar a urgência da preservação. O extrativismo desenfreado de outrora cede lugar agora ao desenvolvimento harmonioso – ou pelo menos à busca dele. Afinal, é sabido o quanto a cobiça e a ganância dos exploradores oitocentistas foram nocivas tanto aos índios goyazes que ali viviam quanto à exuberante natureza que os acolhia.
Em se tratando de Goiás, estado famoso por suas vastas fazendas e seus ricos latifúndios, o que pensar da agricultura depredatória e da pecuária desajustada que tantos empresários vêm praticando sobre as terras? O que pensar das hidrelétricas que ameaçam tantos paraísos naturais?
Será que basta ao governo e à sociedade estimular a reflexão sobre a crise ecológica, promovendo eventos como o FICA? Ou a lavagem das consciências se consumará apenas quando ações bruscas e profundas se realizarem na esteira das críticas e das utopias?
Que a arte não seja vã, que o FICA não seja um mero receptáculo de recursos econômicos, que o turismo não seja apenas folia e que a natureza e a sociedade mereçam o vínculo eterno que o tempo lhes outorgou.