De maio a setembro, nossa Capital Brasília se borda de maravilhosos ipês. O que flora primeiro e vai-se embora aos poucos, durante o mês de agosto, é o ipê roxo. Flavio Goulart, do www.veredasaude.com, nos apresenta esta descrição do ipê roxo, belo símbolo florístico de Brasília.
“Do ponto de vista botânico, [segundo Harri Lorenzi, profundo conhecedor das árvores brasileiras], ele pode ter o gênero Tecoma, ou Tabebuia, ou ainda Handroantus, pertencendo ao grupo das Angiospermas, família das Bignoniáceas. Os nomes populares são também variados: ipê roxo, ipê-cavatã, pau d’arco, lapacho, piúva… em alguns lugares ele nem é chamado de roxo, mas de preto.
Parece ter havido uma reclassificação recente do gênero Tabebuia, colocando como pertencentes à mesma espécie tanto a T. impetiginosa como a T. avellanedae, mas, pra variar, há discordância entre os botânicos (mas o que importa isso se sua florada dispensa classificações…).
Para complicar, existe ainda uma espécie conhecida como ipê-rosa, ipê-roxo-de-sete-folhas e mesmo ipê-roxo, mas com flores de cor semelhante, só que compostas por cinco a sete porções (folíolos). Este seria o Handroanthus heptaphyllus (hepta = sete).
O mestre Lorenzi indica ainda que se trata de árvore alta, com 25 a 30 metros de altura, copa arredondada, tronco ereto, casca marcante e fissurada, crescimento rápido. Mas o que ele tem de realmente marcante são as floradas, formadas por “inflorescências em panículas congestas, de forma globosa, com as flores geralmente em grupos de três. Ele é generoso em sua distribuição, ocorrendo do Maranhão até o Rio Grande do Sul, sendo típico da “floresta latifoliada semidecídua”, seja lá o que isso quer dizer… Consta que está presente na floresta amazônica também.
Pode ser encontrado ainda, de forma nativa, na Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela, na América do Sul; em El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá, na América Central, e no México (América do Norte). É cosmopolita a tabebuia!
Em tempo: “Ipê”, é palavra de origem tupi, que significa ‘árvore cascuda’. É da sua utilização indígena que sobreveio o nome “pau d’arco”, pelo seu uso na fabricação deste tipo de arma, o arco e flecha.
Tem madeira dura, já se sabe, o que é uma boa coisa para os extrativistas, mas um grande problema para a nossa tabebuia. Pisos, madeiramento de telhados, portas e janelas em Ipê são o suprassumo do consumo em termos de madeira – é só ir a uma madeireira e perguntar pelo preço, superior ao das demais espécies de madeiras.
Outras informações registradas: suas flores dão lugar a vagens com sementes leves e abundantes, dispersadas pelo vento; é uma planta de forte apelo ornamental, com floração na estação seca (maio-agosto), perdendo em tal ocasião todas as suas folhas; as flores vão, na verdade, do rosa ao lilás e duram bem poucos dias; a florada é fonte de alimento para insetos diversos, mormente abelhas polinizadoras e também para aves, entre as quais os colibris, e mesmo macacos.
O Ipê Roxo muito usado em arborização urbana, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, mas também na Argentina. Fala-se muito em seu uso medicinal, sendo mesmo incorporada a farmacopeia tradicional indígena. Sabe-se que em sua casca são encontrados e podem ser extraídos os ácidos tânicos e lapáchico, além de sais alcalinos e corantes usados para tingir algodão e seda.
No Brasil, sua utilização popular se dá pelos banhos com chás das folhas e com o cozimento (decocto) da entrecasca, com indicações as mais diversas, tais como gripes, bronquite, sinusite, impetigo, úlceras sifilíticas e blenorrágicas, cervicite e cervico-vaginite, controle da anemia (antianêmica), cistite (diurético), “sangue grosso”, calmante, alívio das inflamações de ouvido, dor no corpo (antirreumática), picada de cobra, afta, gastrite, verminoses, diarreias, diabetes e câncer (leucemia, tumores). Parece a verdadeira panaceia universal…”
Para quem mora ou passa por Brasília na secura de agosto, o que importa mesmo, o que encanta a alma é essa explosão das floradas dos ipês prenunciando a primavera.
Foto: Christoph Diewald
ANOTE AÍ:
Esta matéria foi publicada na revista Xapuri, edição do mês de agosto de 2016, graças ao apoio da Terracap, a quem agradecemos.