A lenda das margaridas
Diz a lenda que, certa vez, em uma noite muito estrelada, uma menina curiosa e feliz pediu ao céu da noite:
Por Zezé Weiss
“Oh, estrelas, vocês que são tão lindas, por favor se transformem em flores, para que eu possa brincar com vocês também durante o dia.”
Ao acordar pela manhã, mal havia nascido o dia, a menina se deparou com muitas flores margaridas banhadas pelo orvalho prateado da manhã no jardim de sua casa.
O sol perguntou, então, às margaridas: “Vocês estão felizes aqui na Terra”?
“Sim, estamos muito felizes”, respondeu uma das margaridas. “Por favor, deixa a gente ficar por aqui não só hoje, mas o tempo todo, em todas as estações, para que nós possamos sempre alegrar muitas crianças”, pediu outra margarida.
“Claro”. disse o Sol que, para torná-las ainda mais lindas, bordou com seus raios dourados um círculo amarelo no meio de cada flor.
Foi assim que o mundo se encheu de luz com a beleza singela das margaridas.
Zezé Weiss – Jornalista Socioambiental. Releitura de uma das muitas lendas sobre as margaridas, com base em relatos disponíveis nas redes sociais.
https://revistaxapuri.info/elizabeth-teixeira-resistente-da-luta-camponesa/
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.
Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.
Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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